Há dois séculos que o Ocidente olha para o mapa e pensa: "E se…?"
O “e se” é sempre o mesmo: e se conseguíssemos meter a mão naquela imensidão gelada, com rios tão largos que parecem mares, e chão tão rico que se fosse bolo dava para alimentar o planeta inteiro?
Napoleão tentou primeiro. Armou-se em estratega genial, marchou para Moscovo, e acabou a regressar com um exército reduzido a um clube de sobreviventes do frio - a Rússia respondeu com neve, fome e distância.
Depois veio Hitler, que jurava que a Rússia cairia em meses. Descobriu que Moscovo não se mede em quilómetros, mede-se em cadáveres e inverno. Resultado: mais um ocidental que saiu com a cauda entre as pernas.
Agora é a NATO. Não com cavalos nem tanques nazis, mas com sanções, acordos falhados e “expansões pacíficas” que curiosamente se movem sempre para Leste. Ursula von der Leyen já sonha alto: juntar dinheiro, armar-se até aos dentes e tentar outra vez daqui a dez anos. É o mesmo filme, só mudam os atores e as armas. O final? A julgar pelo histórico, preparem os casacos.
E porquê esta obsessão? Porque a Rússia não é apenas um pedaço de terra - é um armazém do planeta. Vejamos o inventário:
- Gás natural – 20% das reservas mundiais. Sem ele, boa parte da Europa volta a aquecer-se com lareiras e rezar para o inverno ser brando.
- Petróleo – reservas gigantes, especialmente na Sibéria e no Ártico, que mantêm motores e indústrias do mundo a girar.
- Carvão – ainda vital para certas indústrias pesadas, embora pouco sexy nas conferências climáticas.
- Paládio – usado em catalisadores de carros, semicondutores e joalharia fina.
- Níquel – essencial para baterias de alta capacidade e aço inoxidável.
- Titânio – indispensável na indústria aeroespacial e militar.
- Platina – um dos metais mais raros e valiosos, chave em tecnologias de ponta.
- Terra rara – conjunto de minerais críticos para smartphones, eólicas, mísseis e satélites.
- Madeira – florestas imensas com valor comercial e ambiental.
Em suma, a Rússia é uma espécie de hipermercado geológico e energético onde o Ocidente gostaria de fazer compras… mas a segurança à porta nunca deixa passar sem convite.
O problema é que, sempre que tentam “entrar”, não só falham como saem mais fracos. O que Maquiavel teria dito? Provavelmente que só um tolo repete a mesma estratégia esperando resultado diferente. Mas a história ocidental em relação à Rússia parece mais uma sitcom geopolítica: um enredo previsível, vilões e heróis invertidos conforme o canal de TV, e um público dividido entre rir e chorar.
Talvez, no próximo “assalto” planeado para daqui a dez anos, alguém perceba que invadir a Rússia - seja militar ou economicamente - é como tentar ensinar um urso polar a dançar tango: não só não resulta, como pode acabar muito mal para quem lidera a dança.
João Gomes in Facebook