A uma semana da entrada em vigor das chamadas “tarifas recíprocas” do presidente americano Donald Trump, que devem atingir o etanol brasileiro exportado aos Estados Unidos, o setor sucroalcooleiro embarcou para o Japão, como parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na expectativa de conquistar espaço em um novo mercado em formação.
De Tóquio, o presidente da União da Indústria de Canade-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, disse ontem ao Estadão que o setor rejeita a hipótese de uma redução na tarifa de 18% cobrada sobre o etanol de milho importado dos EUA como forma de evitar a tarifação recíproca anunciada por Trump.
A promessa da Casa Branca é de que a tarifa passe a valer a partir do dia 2 de abril, e o governo brasileiro segue tentando adiá-la em rodadas de conversas. “De maneira alguma, a indústria nem cogita esse tema de redução da tarifa. Nós estamos falando de dois produtos extremamente diferentes. Não faz sentido a gente deixar de crescer a produção brasileira de um etanol de baixo nível de emissão para importar um etanol com alto nível de emissão, que é feito lános Estados Unidos”, afirmou Gussi, que vai participar hoje do Fórum Económico Brasil-Japão,evento com apresença do presidente Lula e do premiê japonês, Shigeru Ishiba. Gussi disse que não há uma contraproposta brasileira aos EUA, e disse confiar na estratégia de negociação adotada pelo governo brasileiro, que optou por ouvir o setor antes de iniciar conversas com representantes da administração Trump. O próprio Gussi participou de reuniões com o vice-presidente Geraldo Alckmin (também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e de duas recentes audiências com o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores). “Confiamos muito no governo brasileiro, que está sendo, lógico, diplomático ebuscando soluções pacificadoras para esse processo, mas ao mesmo tempo com uma altivez muito grande, percebendo com clareza os diferenciais do etanol brasileiro e a necessidade de respeitar e valorizar esses atributos nacionais”, diz. Caso a administração Trump não reverta a prometida tarifa de 18% ao etanol brasileiro, diz, a consequência será um aumento de custos internos nos EUA, sem impacto imediato aos produtores nacionais. ‘ETANOL MAIS LIMPO’.
Os produtores brasileiros exportam sobretudo para clientes da Califórnia, por causa de compromissos de redução de emissões de gases do Califórnia Air Resources Board, agência governamental destinada ao controle da poluição do ar e do combate a mudanças climáticas. “Primeiro, esperamos que (n taxação) não aconteça. Os Estados comprometidos com a descarbonização vão pagar mais caro por esse etanol”, disse Gussi. “Por que a Califórnia importa etanol do Brasil? Porque nosso etanol é mais limpo, o americano chega a ter o triplo de emissões do que o etanol brasileiro. Não teria lógica essa tarifa de equivalência, já que os produtos são diferentes .Então, para cumprir as metas de redução de emissões lá na Califórnia, eles precisam do etanol brasileiro.” Jáno Japão,o maior competidor do Brasil serão os Estados Unidos - maior produtor de etanol do mundo, com 52% de participação em 2024, segundo dados da RFA (Renewable Fuels Association). Em fevereiro, o premiê japonês indicou na Casa Branca a intenção de importar mais etanol dos EUA, “a um preço estável e razoável”, o que foi prontamente comemorado por Trump: “Todos os nossos Estados agrícolas ficarão muito felizes. Eles (ps japoneses) querem etanol, e nós seremos capazes de fornecê-lo”.
Ao contrário do temor que ronda a busca pela abertura do mercado japonês de carne bovina brasileira (o que também fará Brasil e EUA competirem), Gussi descarta que o governo japonês possa tomar alguma decisão com motivação política que leve o País a perder espaço. “Eu não acredito nisso. E claro que vai ser uma competição de mercado natural, mas os japoneses têm se debruçado muito sobre o tema da diminuição de emissões de CO,ejáreconhecemlargamente e publicamente que o etanol brasileiro tem um nível de emissão muito menor.” • Pressão Trump ameaça taxar em 18% o etanol brasileiro caso País não suspenda a tarifa sobre o americano.
Autor: Felipe Brazão
Fonte: O Estado de S. Paulo