A ativista pela Palestina reforça o apelo por ações contundentes do Governo Lula para interromper o genocídio em Gaza e alerta para os riscos geopolíticos dos discursos moderados em relação ao sionismo.
“Romper com o sionismo é romper com a estrutura do poder imperialista.” A afirmação contundente da economista e ativista palestino-brasileira Amyra El Khalili resume o tom da entrevista concedida ao programa Dialogando com Paulo Cannabrava da última terça-feira (8). Professora e fundadora do Movimento Mulheres pela Paz na Palestina, Amyra é categórica ao defender que o governo Lula precisa adotar uma postura firme frente ao genocídio em Gaza e romper, de fato, todas as relações com Israel.
Ao comentar o dossiê SOS Palestina, entregue a Lula em maio por centenas de organizações internacionais, Amyra destaca que o documento não é apenas uma denúncia humanitária, mas uma exigência jurídica baseada no direito internacional:
“É um documento histórico. Ele não pede favores: exige sanções, ruptura de relações comerciais e fim do apoio militar ao Estado de Israel”, afirma. E acrescenta: “Não podemos apoiar a causa palestina com um pé e negociar armas e petróleo com Israel com o outro.”
Ela lembra que Lula, dias após receber o dossiê, deu uma resposta “humanitária e coerente” à CNN. No entanto, critica a especialista, o presidente brasileiro adotou um tom contraditório durante a reunião do Brics, quando repetiu a narrativa sionista sobre o Hamas:
“O Lula sabe que o Hamas é um governo legitimamente eleito, não é o ISIS. Repetir o mantra de que foi um ataque terrorista em 7 de outubro é cair na propaganda que justificou o genocídio”, diz a economista. Para ela, esse discurso coloca todas as crianças e mulheres palestinas como “terroristas” e legitima as atrocidades cometidas por Israel.
Amyra também denuncia a cumplicidade do Congresso brasileiro, dominado por uma bancada evangélica sionista. “É um Congresso que levanta a bandeira de Israel nas ruas. E o Lula, ao não romper de vez com esse sistema, se coloca em risco. Se ele não romper com o sionismo, o sionismo vai romper com ele”, alerta.
Os danos ambientais causados pelos ataques israelenses é outro tópico abordado por Amyra, que classifica o uso de armas químicas e bombas de alto impacto como crimes contra a humanidade e contra a natureza.
El Khalili conclui que o papel do Brasil deve ser o de liderança no Sul Global e que esse protagonismo só será possível se houver coragem para enfrentar os lobbies imperialistas. “Estamos falando de um sistema. Romper com Israel é, na verdade, romper com o império. E isso exige coragem, consciência e apoio popular.”
Autor: George Ricardo Guariento
Fonte: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube e pode ser vista na secção de vídeos deste site.