A entrada em cena dos ATACAM é um avanço qualitativo da agressão da NATO contra a Rússia mas esses mísseis não vão alterar significativamente o conflito em favor da Ucrânia.
A aprovação pela Administração de Washington e imediata execução pelo regime nazi de Kiev do lançamento de mísseis táticos de produção norte-americana conhecidos por ATACAM contra território russo é um sinal do desespero que atravessam a NATO e o mundo ocidental perante a perceptível derrota militar, mais uma, agora no território ucraniano.
O elemento mais trágico e perigoso desta decisão do chefe real da NATO para envolver directamente a aliança na guerra contra a Rússia é o facto de ter sido assumida por um presidente norte-americano derrotado e em regime de transição, senil e reconhecidamente demente – desde sempre um sociopata – dado como incapaz para se recandidatar mas não para criar uma situação iminente de guerra nuclear.
É assim que o Ocidente funciona actualmente: o desespero perante a derrota militar numa guerra por procuração em que a NATO – principalmente a União Europeia – investiram quase tudo, sobretudo em recursos orçamentais e armas, além da delapidação de meios essenciais para as suas economias, conduz à irresponsabilidade; e esta, por sua vez, leva a que decisões pondo em causa a sobrevivência dos oito mil milhões de pessoas, tantas quantas as que habitam no planeta, sejam tomadas (ou pelo menos anunciadas) por um único indivíduo doente, com as capacidades cognitivas visível e reconhecidamente reduzidas à ínfima espécie – mas ainda suficientes para que venham ao de cima as pulsões belicistas e assassinas que marcaram a sua longa vida nas estruturas imperiais dominantes.
A decisão de atacar declarada e efectivamente a Rússia usando um indivíduo sem legitimidade presidencial, mas disposto a matar o seu povo numa guerra perdida, foi pronunciada por um inconsciente manipulado através do real sistema de poder, o complexo industrial, militar e tecnológico, actualmente nas mãos da seita criminosa dos neoconservadores que não olham a meios, mesmo o extermínio, os genocídios e, no limite, a matança nuclear, para alcançar os seus fins de controlar globalmente o planeta. Muitos acharão que são apenas loucos delirando com o domínio sobre as alavancas transnacionais de poder, mas eles levam-se a sério. E devemos levá-los a sério.
Brincar com o fogo e com as nossas vidas
É quase certo que Joseph Biden não leu, ou não conseguiu ler, a nova doutrina nuclear da Federação Russa, afinada depois de a NATO, na sequência do golpe ocidental na Praça Maidan, ter patrocinado a guerra conduzida pelo então novo regime nazi-banderista contra as comunidades russas do Leste do país – agora território de facto da Rússia,
Quem ouve ou lê as opiniões e declarações de importantes dirigentes ocidentais percebe que, como parte da sua irresponsabilidade e do seu autismo, não dão importância e não levam a sério o conteúdo dessa doutrina. Interpretam-na como um documento de propaganda pretendendo ser dissuasor mas que não corresponde a intenções sérias do Kremlin, afundado numa espécie de fraqueza congénita e determinista.
Isto é, o Ocidente aposta desesperadamente numa guerra que tem como objectivo último e declarado a destruição da Federação Russa e a sua transformação territorial numa série de Estados inofensivos e subservientes que permitam a rapina dos seus bens e riquezas, tal como aconteceu nos finais da União Soviética sob o consulado etilizado de Boris Ieltsin.
Dirigentes ocidentais chegam até a achincalhar o conteúdo dessa doutrina nuclear garantindo que Putin nunca será capaz de a aplicar, o que será mais uma das suas manifestações de “fraqueza”. O pior é que se pagarem para ver seremos todos nós a suportar o preço dessa aposta suicida.
Esses dirigentes estão enganados e fazem de nós alvos dos ricochetes da sua inconsciência, tal como já aconteceu com os efeitos das sanções económicas à Rússia.
Tenhamos em conta a posição imediatamente assumida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo ao sinalizar que a decisão de alto nível de agressividade agora tomada muda a essência do conflito: Washington e os seus satélites são os responsáveis – e haverá resposta.
O Ocidente está a confundir a contenção de Putin em chegar a decisões extremas com um bluff, mas o resultado dessa leviandade poderá ser uma guerra nuclear exterminadora, que já esteve bem mais longe e nunca atingiu – com excepção da crise de Cuba – tal dimensão durante a guerra fria. A “nossa civilização” continua a testar os limites de Moscovo, provocação atrás de provocação, principalmente com objectivos políticos e de propaganda. A NATO está convencida de que assim, por hipotética falta de resposta, conseguirá fragilizar a posição de Putin, sobretudo entre os duros do regime; ao mesmo tempo tenta provar que a Rússia, ainda que estando a ganhar a guerra, acabará fatalmente por perdê-la perante o todo-poderoso e invencível Ocidente. Tal estratégia é o melhor caminho para o abismo.
Até aqui o Kremlin não encarou a hipótese de colocar, em termos práticos, a nova doutrina nuclear em cima da mesa, mas nunca deixou de ser claro quanto à sua validade no caso de as coisas mudarem e a NATO transformar a sua guerra contra a Rússia por interposto país numa intervenção militar directa com recurso a efectivos de países da Aliança no terreno. Eles já estavam presentes, é certo, disfarçados de mercenários e “conselheiros”, mas agora a situação mudou mesmo, e para a zona mais sensível e letal: os mísseis ATACAM em poder da Ucrânia só podem ser utilizados com a intervenção directa de militares de exércitos dos países da NATO, principalmente dos Estados Unidos da América.
A agressão tornou-se, sem qualquer dúvida, directa, o que leva o Kremlin a equacionar o recurso à sua nova doutrina nuclear. Os dirigentes da Federação Russa consideram que a situação degenerou em ameaça existencial ao país, o que poderá implicar, em casos extremos, a opção atómica visando alvos da NATO.
A renovada doutrina russa estabelece, por exemplo, que em caso de agressão ao país por qualquer potência não nuclear mas com participação ou apoio de um Estado nuclear (o que já acontece actualmente) a situação significará um ataque conjunto à Federação Russa. Além disso, a existência de “uma ameaça crítica à soberania russa” será considerada “base para uma resposta nuclear”. Também será “questão para uso de armas nucleares” a existência de “dados fiáveis” sobre o lançamento em massa de mísseis ou drones contra o território russo. Outro ponto que está nos limites da realidade actual estabelece que “a Rússia é obrigada a levar em conta o aparecimento de novas fontes de ameaças militares e riscos para a sua existência e a dos seus aliados”. A partir de agora, cumpridos uma série de pressupostos desta doutrina, tudo é possível: a tragédia paira, como nunca, sobre todos nós – embora a maioria continue alheada graças às efabulações terroristas da info-propaganda global.
A possibilidade da entrada operacional em vigor desta doutrina russa tornou-se mais séria com a disponibilidade assumida pelo chefe máximo da NATO para atacar profundamente o território da Federação – implicitamente o próprio Kremlin – , porém não atingiu o momento de ruptura, o que não significa fraqueza de Moscovo, mas sim a intenção responsável de, até ao último e decisivo momento, evitar a catástrofe.
Mas ressalta, como sinal de irresponsabilidade e da falta de escrúpulos em usar os povos – as pessoas, em suma – como carne para canhão, o facto de os Estados Unidos e satélites parecerem não hesitar em mergulhar o mundo numa guerra nuclear desde que, através das suas sucessivas e cada vez mais agressivas provocações, consigam que seja a Rússia a iniciá-la no campo de batalha.
A entrada em cena dos ATACAM é um avanço qualitativo da agressão da NATO contra a Rússia mas, segundo especialistas militares que não usam antolhos de modo a rodarem para todo o sempre à volta da nora e que também não nasceram trazendo a verdade como acessório, esses mísseis não vão alterar significativamente o conflito em favor da Ucrânia. Uma vez que a Rússia continua a avançar a sua frente militar em território ucraniano a velocidade cada vez maior, os 300 quilómetros de alcance das novas maravilhas da indústria da morte à disposição dos nazi-banderistas de Kiev já não poderão atingir tão profundamente o território russo. Os especialistas dizem que talvez venham a servir de apoio à testa de ponte criada pelo regime banderista na região russa de Kursk – para depois “trocar” territórios por territórios em “negociações de paz” – um daqueles sonhos delirantes de um falso presidente corrupto e emocionalmente transtornado mas que os nossos dirigentes continuam a sustentar num desespero alienado perante a derrota.
Os ATACAM, porém, podem ser fatais para a ponte da Crimeia, o que, a acontecer, será susceptível de fazer subir o grau da resposta russa até patamares nunca atingidos, e Kiev está cada vez mais à mão de semear.
Para já, numa primeira salva contra território russo o regime falido da Ucrânia gastou 7,2 milhões de dólares (1,2 milhões por ATACAM) e a defesa antiaérea russa remeteu-os para o lixo, ainda que haja sempre os efeitos nocivos dos destroços dos mísseis abatidos. Os 7,2 milhões de dólares não saíram, como é evidente, dos bolsos de Zelensky mas sim dos nossos, onde, por exemplo o ex-primeiro ministro e actual presidente designado e não-eleito do Conselho Europeu, António Costa, meteu as mãos para juntar 200 milhões de euros e depositá-los pessoalmente nas contas do chefe euro-nazi-banderista de Kiev.
Presente envenenado?
Numerosos euro-comentaristas e nacional-comentaristas interpretam a autorização de Biden a Zelensky para lançar mísseis ATACAM como um “presente envenenado” ao presidente eleito Donald Trump, de maneira a tentar desmontar o seu objectivo, meramente verbal e pronunciado pelo mentiroso contumaz que ele é, de acabar rapidamente com a guerra mesmo à custa de a Ucrânia perder os territórios que caíram sob domínio russo.
Como sempre, esses analistas navegam à deriva, martelam os factos de modo a caberem nas teorias que, entretanto, alguém lhes ensinou. Ou então não fariam parte da nobre comunidade do comentariado.
Essas teses partem do princípio de que os neoconservadores que sequestraram o poder dentro do Partido Democrático estariam desde já a sabotar a presidência de Trump porque não teriam uma influência equivalente no interior do Partido Republicano. Uma santa ignorância: basta ter em conta a maneira como neoconservadores estão a entrar como setas na administração do presidente que tomará posse em 20 de Janeiro. Haverá diferenças no estilo, no discurso, nos impulsos, a União Europeia será obrigada a desembolsar mais do que não tem se quiser continuar a apostar na vitória da Ucrânia, mas a coluna vertebral da actuação de Washington será a mesma. Por enquanto, apesar do mundo em mudança, o império ainda é o império.
E o império não admite derrotas nos seus objectivos estratégicos, sob pena de deixar de sê-lo. Então a Federação Russa tem de ser feita em pedaços, a exemplo do que aconteceu com a União Soviética, a China tem de ser posta na ordem nas frentes comercial, militar e do auxílio infraestrutural a países carenciados de todos os continentes, o Irão terá de mudar de regime para o colo do Ocidente e Israel terá de continuar a expandir a “civilização ocidental” no Médio Oriente ocupando os territórios que lhe aprouver, chacinando e desterrando centenas de milhar de pessoas.
Assim foi com Bush pai e filho, Clinton, Obama, Trump, Biden – citando os mais recentes – e assim será com Trump II.
Até um dia? Ele apenas chegará se os loucos que andam à solta pelos centros de poder ocidentais não fizerem pagar ao planeta e com as vidas de todos nós o preço da sua previsível e irreversível derrota. E eles parecem dispostos a isso mais do que nunca, se não forem travados a tempo.
Autor: José Goulão
Fonte: https://strategic-culture.su/news/2024/12/03/a-demencia-como-estrategia-militar/