Uma reportagem da CNN enganou o mundo inteiro ao mostrar uma das suas jornalistas, Clarissa Ward, a libertar um prisioneiro sírio detido numa prisão secreta. Não se trata de um embuste isolado, mas sim de uma tendência mais alargada de notícias fabricadas para servir de propaganda ao derrube de Bashar Al Assad.
Em 12 de dezembro, Ward noticiou a libertação de prisioneiros das prisões sírias após a queda de Al Assad. As imagens mostram Ward e a sua equipa a filmar o momento do encontro de um prisioneiro numa das celas, deitado debaixo de um cobertor antes de levantar as mãos acima da cabeça quando Ward se aproxima.
A reportagem termina com o prisioneiro libertado a olhar para o céu com medo antes de se inclinar para beijar o repórter da CNN. No entanto, a cena tinha sido encenada.
A CNN encenou a história estritamente de acordo com o manual de outras novelas de ficção dos últimos tempos.
Os jihadistas tinham invadido a prisão dos serviços secretos da Força Aérea Síria dois dias antes da chegada de Ward e dos outros membros da equipa da CNN, e simularam a saída dos prisioneiros durante uma transmissão em direto no Facebook. Nem mesmo a identidade do homem que aparecia na reportagem era certa. Inicialmente, tinha sido identificado como Adel Ghurbal, embora mais tarde se tenha descoberto que o seu verdadeiro nome é Salama Mohammed Salama. Longe de ser um civil comum, Salama era um oficial dos serviços secretos que tinha servido como tenente na força aérea síria sob o governo de Bashar Al Assad. Em vez de apresentar um pedido formal de desculpas pelo erro de informação, a estação defendeu a sua atuação, embora tenha admitido que a identidade do prisioneiro pode ter sido manipulada.
Ward e a CNN: uma encenação atrás da outra
Esta não é a primeira vez que Ward, correspondente internacional da CNN, é denunciada por encenar as suas reportagens. Em outubro do ano passado, Ward disse que estava num local perto de Gaza, onde foi vista a esconder-se de forma dramática na berma de uma estrada, quando se dizia que estava a passar uma “enorme chuva de mísseis”.
Foi mais um tiroteio mal encenado. Não foram apresentadas provas para sustentar as alegações de que havia mísseis nas proximidades e não foram ouvidas sirenes durante as filmagens.
Em 2018, a CNN emitiu outra reportagem fraudulenta quando a jornalista Arwa Damon foi filmada a cheirar uma mochila em busca de vestígios de produtos químicos no local de um alegado ataque com gás sarin em Douma. Este facto não era plausível porque o sarin é um agente nervoso altamente tóxico que poderia ter causado a morte ou doenças graves.
O caso dos bebés decapitados pelos palestinianos
A tática de adulterar algumas histórias e desvalorizar outras é recorrente na CNN, especialmente durante a guerra entre Gaza e Israel. Mas o caso mais infame foi o dos bebés israelitas decapitados no Kibutz Kfar Aza, uma falsa montagem de Sara Sidner que os meios de comunicação social intoxicados de todo o mundo têm reproduzido incansavelmente, com plena consciência do embuste.
Quando foi desmascarada, Sidner teve de pedir desculpa pela fraude, como se tivesse acabado de se enganar, como se fosse a primeira vez que tinha de se retratar em público dos seus embustes.
A 17 de junho de 2011, a então Secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton afirmou publicamente que as tropas de Kadhafi estavam a utilizar a violação como arma de guerra. Clinton estava a basear-se num relatório de Sidner, que mais tarde o desmentiu. Apesar disso, o embuste continuou a circular nos meios de comunicação social mundiais depois de a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, ter testemunhado perante o Conselho de Segurança que Kadhafi estava a fornecer Viagra às suas tropas para encorajar violações em massa.
Em 2020, a CNN contribuiu para a controvérsia em torno das alegadas “recompensas” pagas aos Talibãs pela morte de soldados americanos no Afeganistão. Enquanto a maioria dos principais meios de comunicação social atribuía as alegações ao envolvimento da Rússia, a CNN publicou um relatório alegando que o Irão estava por detrás dos pagamentos.
O embuste também circulou amplamente em todo o mundo durante um ano. Em 2021, a administração Biden reconheceu que os relatórios da CIA sobre o assunto eram “inconclusivos”.
Mas as rectificações nunca serviram para esclarecer a fraude. Passado um ano, ninguém se lembra de nada. A intoxicação acaba por se aninhar na consciência do mundo, deixando um impacto duradouro, mesmo nos manuais universitários.
Autor: Robert Inlakesh