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O monopólio nuclear de Israel: desequilíbrio no Oriente Médio e ameaça à ordem internacional
Por Administrador
Publicado em 26/06/2025 18:25
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Não haverá segurança real enquanto persistirem privilégios nucleares, e não haverá estabilidade enquanto o Israel possuir armas nucleares completamente fora de qualquer estrutura de controle.



Num cenário que reflete a profundidade das contradições internacionais, os Estados Unidos realizaram, em junho de 2025, um amplo ataque aéreo contra instalações nucleares iranianas, tendo como alvos os complexos de Fordow, Natanz e Isfahan. A operação militar foi anunciada pelo presidente estadunidense Donald Trump, que a classificou como “altamente bem-sucedida”, afirmando que “todas as aeronaves estadunidenses deixaram o espaço aéreo iraniano após descarregar uma carga completa de bombas sobre o principal alvo em Fordow”. O ataque, segundo comunicado da Guarda Revolucionária Iraniana, foi realizado em total coordenação com Israel e constitui uma violação flagrante do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), da Carta das Nações Unidas e dos princípios fundamentais da soberania internacional.



Esse escalonamento militar por parte dos EUA, sob o pretexto de combater um programa nuclear de caráter civil, volta a expor a contradição estrutural da ordem internacional: Israel, o único país do Oriente Médio que detém um arsenal nuclear, permanece acima das leis internacionais, imune a inspeções, fora de qualquer tratado de controle, enquanto outros países são bombardeados sob a mera suspeita ou intenção de desenvolver programas nucleares pacíficos.

Uma única bomba muda toda a equação

No coração de um Oriente Médio permanentemente instável, os fatos demonstram que a arma nuclear não é mais apenas um instrumento de dissuasão: tornou-se uma bomba moral que ameaça a integridade do sistema internacional. De acordo com o mais recente relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), até 1º de janeiro de 2025, apenas nove países possuíam esse armamento letal, totalizando 12.241 ogivas nucleares, das quais 9.614 estão ativas nos arsenais militares e 2.100 encontram-se em estado de alerta máximo.

Israel: um enclave nuclear blindado

Estima-se que o arsenal nuclear de Israel contenha cerca de 90 ogivas, distribuídas entre bombas gravitacionais – que podem ser lançadas por aeronaves (cerca de 30 unidades) – e mísseis balísticos Jericho II e III (aproximadamente 60 unidades). Ainda assim, Israel mantém a sua política de ambiguidade nuclear, recusando-se a aderir ao Tratado de Não Proliferação e permanecendo fora de qualquer regime de inspeção ou monitoramento internacional.

Por outro lado, todos os demais países do Oriente Médio – da Turquia ao Irão, passando pelo Egito e pelos Estados do Golfo – possuem zero ogivas nucleares. Apesar disso, estão submetidos a crescentes pressões políticas e militares, como se observa no caso do Irão, perseguido internacionalmente por manter um programa nuclear de natureza exclusivamente civil.



Paradoxos nucleares que abalam o equilíbrio regional



1. Dupla moral internacional

O programa nuclear iraniano é tratado como uma ameaça iminente, alvo de sanções, ataques e isolamento, enquanto Israel é sistematicamente isento de qualquer questionamento sobre o seu arsenal, sem obrigação de prestar contas nem de se submeter a normas jurídicas internacionais.



2. Arma oculta, ameaça explícita

Em março de 2025, uma autoridade israelita de alto escalão declarou que “a opção nuclear está sobre a mesa em Gaza”, numa ameaça explícita de uso desse armamento proibido contra uma das áreas mais densamente povoadas do planeta – uma declaração que agrava profundamente o senso de insegurança em toda a região.



3. Supremacia assimétrica

O arsenal nuclear de Israel aprisiona o futuro do Oriente Médio numa lógica de dissuasão absolutamente desigual, negando aos povos da região o direito de desenvolver defesas soberanas sob a justificativa de “manter a superioridade militar israelita”.

Uma nova corrida armamentista e o colapso dos mecanismos de controle

Os dados do SIPRI são claros: o mundo vive uma nova corrida armamentista nuclear, impulsionada pelo colapso progressivo dos instrumentos de controle e fiscalização. Desde a retirada dos EUA do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) e a resistência em renovar o tratado New START, as grandes potências aceleram a modernização dos seus arsenais. Israel não é exceção: investe intensamente no aprimoramento de suas capacidades nucleares, tanto aéreas quanto balísticas, em ritmo acelerado.

Um apelo pela justiça nuclear global

O monopólio nuclear de Israel, sustentado por uma imunidade internacional escandalosa, representa uma ameaça não apenas à segurança regional, mas também à própria credibilidade da ordem internacional baseada no direito. A solução não reside na escalada militar nem em ataques preventivos, mas na imposição de um desarmamento nuclear integral no Oriente Médio, que comece, necessariamente, por Israel.

Da mesma forma, reformar a arquitetura internacional exige que todos os programas nucleares – inclusive os de caráter civil – sejam submetidos a uma fiscalização multilateral, transparente, justa e livre de seletividades e instrumentalizações políticas.

Não haverá segurança real enquanto persistirem privilégios nucleares desiguais. E não haverá estabilidade enquanto existir um Estado armado com armas nucleares completamente fora de qualquer estrutura de controle. Basta uma única bomba – lançada ou mantida como ameaça – para redesenhar não apenas o Oriente Médio, mas o mundo inteiro.





Autor: Wisam Zoghbour



Fonte: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/negligencia-internacional-com-arsenal-nuclear-de-israel-ameaca-o-oriente-medio-e-o-mundo/





 

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