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O misterioso derrube de um avião sobre o Cazaquistão
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Publicado em 20/01/2025

Em 25 de dezembro do ano passado, o Embraer 190AR que efectuava o voo internacional de Baku para Grozny despenhou-se perto do aeroporto de Aktau, no Cazaquistão. Operado pela Azerbaijani Airlines, o voo foi subitamente desviado para o Mar Cáspio. A bordo estavam 62 passageiros e cinco membros da tripulação. O avião não conseguiu completar a manobra e despenhou-se, matando 38 pessoas, incluindo os pilotos e uma assistente de bordo, enquanto 29 pessoas sobreviveram com vários ferimentos.

Embora Grozny esteja longe do teatro de operações da guerra ucraniana, o avião pode ter sido atingido por um míssil antiaéreo russo na aproximação à capital chechena, obrigando a tripulação a tentar uma aterragem de emergência.

 

O Azerbaijão, o Cazaquistão e a Rússia abriram um inquérito para determinar as causas do acidente. As investigações preliminares revelaram que o avião sofreu interferências físicas e técnicas externas, tendo sido registadas explosões durante o voo. A Rússia admitiu que o seu sistema de defesa aérea estava ativo para repelir os ataques de drones ucranianos na zona, mas não confirmou a responsabilidade direta.

Mas há quem não precise de qualquer investigação para saber as causas da queda de um avião. O Reino Unido apontou imediatamente o dedo à Rússia e lançou uma campanha de intoxicação correspondente. O mesmo fez o ministro dos Negócios Estrangeiros canadiano, em sintonia com os Estados Unidos, que acusou a Rússia através das redes sociais. A CNN divulgou a verdade oficial através de uma fonte anónima: o acidente pode ter sido causado pelas defesas antiaéreas russas.

 

Pretendiam absolver a Ucrânia de qualquer responsabilidade, apesar de esta ter lançado ataques de drones de longo alcance sobre Grozny na altura do incidente, o que poderia ter levado as defesas antiaéreas russas a disparar por engano contra o avião, ou poderiam ter sido estilhaços de um drone destruído que o atingiram.

Num post anterior afirmámos que não houve tal acidente, que se tratou de um ataque deliberado para forçar a Rússia a fechar indefinidamente o espaço aéreo do sul como medida de precaução devido ao longo alcance dos drones ucranianos.

No entanto, nesse caso, o Azerbaijão teria tido de fazer o mesmo, tal como outros países do Cáucaso, que teriam sido afectados negativamente pelo encerramento.

Há também quem assinale que a NATO não fez o mesmo na Ucrânia ocidental, apesar dos ataques de drones russos.


O triângulo comercial da Rússia com o Azerbaijão

 

Nos últimos anos, especialmente após a eclosão da guerra ucraniana, as relações entre os três países (Azerbaijão, Cazaquistão e Rússia) conheceram uma convergência significativa de interesses, especialmente no sector da energia.

A Rússia ocupa uma posição estratégica importante para o Azerbaijão, não só devido à sua proximidade geográfica, mas também devido à sua influência política e militar no Cáucaso. Após a eclosão da guerra da Ucrânia, o Azerbaijão tornou-se um canal crucial para a Rússia desenvolver as suas relações comerciais com a Europa, especialmente através da triangulação comercial.

Isto é particularmente evidente no sector da energia, em que a Rússia retomou o fornecimento de gás à empresa estatal do Azerbaijão, Socar, para compensar as crescentes exigências dos seus parceiros europeus, apesar das sanções ocidentais. A UE está a acompanhar de perto esta colaboração para evitar que o gás russo chegue à Europa através do Azerbaijão, o que poderia comprometer a eficácia das sanções.

O comércio com o Azerbaijão é importante para a Rússia. O volume ultrapassa os 4 mil milhões de dólares. A Rússia exporta principalmente petróleo, gás e produtos petrolíferos, enquanto o Azerbaijão exporta para a Rússia produtos como locomotivas, automóveis e géneros alimentícios. A cooperação estende-se também ao sector técnico-militar.

 

Embora mantenha boas relações com Moscovo, o Azerbaijão tenta equilibrar os seus laços internacionais, desenvolvendo também relações com o Ocidente. Tornou-se um dos principais parceiros comerciais da Europa. O Governo de Baku mantém uma política externa equilibrada, tentando não se distanciar nem da Rússia nem dos países ocidentais, como o demonstram a visita do Presidente Ilham Aliyev a Bruxelas e as suas declarações de apoio à NATO, nomeadamente através das suas relações com a Turquia.

Desde o colapso da URSS, os EUA têm prestado ao Azerbaijão assistência militar e apoio à modernização das suas forças armadas, incluindo sistemas de artilharia e de aviação de campanha. Um exemplo significativo desta cooperação foi o anúncio feito em 2009 pela empresa israelita Aeronautics Defense Systems de construir uma fábrica em Baku. Além disso, o governo de Baku recebeu 30 milhões de dólares de ajuda militar dos EUA em 2022.

 

No plano diplomático, registaram-se numerosas trocas de visitas oficiais que reforçaram os laços com o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, acompanhadas de uma cooperação no domínio da energia, em que o Azerbaijão desempenha um papel fundamental no fornecimento de petróleo e gás natural à Europa.

A necessidade de manter alguma estabilidade económica levou o Azerbaijão e a Rússia a reforçar os laços comerciais. A Rússia, pressionada por sanções, encontrou no Azerbaijão um aliado útil para contornar algumas dessas restrições, enquanto o Azerbaijão utilizou a sua posição para aumentar a sua relevância política e o seu peso económico.

 

A importância estratégica do Azerbaijão para a Rússia está também patente no projeto do Corredor Norte-Sul, que visa criar uma saída alternativa para o transporte internacional, sem bases militares norte-americanas, aumentando assim a cooperação estratégica entre a Gazprom e a Socar.

Em 2022, a Rússia procurou reforçar os seus laços com o Azerbaijão para contrariar a influência ocidental na região, utilizando instrumentos como a União Económica Eurasiática (UEE) para aproximar Baku de uma maior integração.

Em 2020, a guerra no Nagorno-Karabakh complicou as relações com a Rússia, que enviou forças de manutenção da paz. O Azerbaijão manifestou a sua insatisfação com a presença russa, considerando-a um obstáculo à sua integridade territorial. Apesar disso, a Rússia continuou a ser um ator fundamental na manutenção da estabilidade na região, e Putin e Aliyev mantiveram contactos pessoais regulares, como demonstram os seus encontros permanentes.

Lorenzo Maria Pacini https://strategic-culture.su/news/2025/01/20/loscuro-caso-del-volo-8243-una-trappola-per-mosca/

Via e crédito da foto: https://mpr21.info/el-misterioso-derribo-de-un-avion-de-pasajeros-sobre-kazajistan/

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