A queda do regime de Bashar al-Assad e a tomada de Damasco pelos rebeldes marcam uma transformação histórica para a Síria, após 13 anos de guerra civil e mais de meio século de governo autoritário da família Assad. O colapso do regime foi acelerado por uma ofensiva rebelde liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que em apenas duas semanas avançou por Idlib, Aleppo, Hama e Homs, até chegar à capital.
Segundo o relatporio do Humanitarian Needs Overview 2024, a ONU indica que 16,7 milhões de sírios precisam de assistência humanitária, a maior cifra desde o início da crise. Ele destaca a intensificação dos combates, o deslocamento de 7,2 milhões de pessoas e os desafios causados pelo terremoto de fevereiro de 2023, que agravaram ainda mais a infraestrutura já fragilizada e os serviços básicos no país.
Não menos dramática, a UNICEF igualmente destaca que 12,1 milhões de sírios enfrentam insegurança alimentar, enquanto mais de 6,5 milhões de crianças precisam de assistência urgente. Além disso, dois milhões de crianças estão fora da escola devido ao conflito prolongado e à destruição de infraestruturas educacionais.
Já o Concern Worldwide detalha o impacto humanitário e econômico do conflito, com 85% da população vivendo abaixo da linha de pobreza e mais da metade dos hospitais não funcionando plenamente. O terremoto de 2023 também afetou gravemente a saúde mental e física de milhões de sírios.
Todo este processo veio na esteira dos agravementos dos conflitos, porém ainda em 2023, o World Food Programme WFP, já aelrtava para o gritante aumento de preços dos alimentos aumentaram 88% desde 2023, tornando a comida inacessível para a maioria da população. Essa crise alimentar está intimamente ligada à desvalorização da moeda síria e às interrupções nos sistemas logísticos e de transporte.
A questão dos refugia UNHCR – Dados de Refugiados, a Síria continua sendo a maior crise de refugiados do mundo, com 6,49 milhões de sírios registrados como refugiados em países vizinhos e 7,25 milhões de deslocados internamente. Essas populações enfrentam desafios graves, como acesso limitado a serviços básicos e exposição a condições de vida precárias.
Apesar das celebrações pelo fim do regime, a Síria enfrenta incertezas quanto ao futuro político e humanitário. O conflito não só devastou o país, como também gerou uma das piores crises humanitárias globais. Segundo a ONU, mais de 16,7 milhões de sírios (71% da população) necessitam de algum tipo de assistência, o maior número desde o início da guerra em 2011.
Mesmo antes da ofensiva rebelde, a população síria já enfrentava dificuldades extremas. Anos de conflito, crise econômica, sanções internacionais e desastres naturais, como o terremoto de fevereiro de 2023, que matou quase 6.000 pessoas no norte da Síria, contribuíram para o agravamento da situação.
Atualmente, 90% dos sírios vivem abaixo da linha da pobreza. A inflação crescente, a desvalorização da moeda e cortes na ajuda humanitária complicam ainda mais o cenário. Apenas 31,6% dos US$ 4,07 bilhões solicitados pela ONU para 2024 foram financiados até agora.
Regiões controladas por HTS, como o noroeste da Síria, sofrem com crises de fome, surtos de doenças como escabiose e cólera, e infraestrutura precária. Dois milhões de pessoas vivem em acampamentos improvisados, sem acesso adequado a saneamento ou eletricidade.
Além da crise interna, a Síria abriga milhões de deslocados e refugiados. Cerca de 4,9 milhões de sírios vivem fora do país, principalmente na Turquia, Líbano e Jordânia. Muitos enfrentam deportações, discursos xenofóbicos e condições de vida adversas.
Dentro da Síria, 7,2 milhões de pessoas estão deslocadas internamente, com mais de 3,4 milhões no noroeste. As recentes mudanças políticas e territoriais podem estimular o retorno de alguns refugiados, mas muitos enfrentam a perspectiva de voltar para cidades devastadas e sem infraestrutura.
O HTS, classificado como organização terrorista por diversos países e pela ONU, enfrenta obstáculos significativos para atrair ajuda internacional e estabelecer governança. Embora o Reino Unido tenha sinalizado abertura para revisar o status do grupo, a comunidade internacional continua cautelosa.
Sanções e complicações legais dificultam a distribuição de ajuda em áreas controladas pelo HTS. A coordenação de esforços humanitários também é um desafio, já que a resposta da ONU foi fragmentada ao longo do conflito.
Diante da nova realidade, a comunidade internacional enfrenta a tarefa de redesenhar estratégias de ajuda. Organizações como os Capacetes Brancos continuam a atuar em operações de resgate e desminagem. Enquanto isso, a ONU e grupos locais tentam garantir o fornecimento de água, alimentos e assistência médica.
A queda de Assad oferece uma oportunidade para reconstruir o país, mas as cicatrizes deixadas pela guerra e as complexidades políticas e humanitárias indicam que o caminho à frente será longo e desafiador.
Fontes
OCHA. Humanitarian Needs Overview (2024). Disponível em: https://www.unocha.org/syria-humanitarian-needs-2024. Acesso em: 11 dez. 2024.
UNICEF. Relatório sobre a crise humanitária na Síria – 2024. Disponível em: https://www.unicef.org/syria-humanitarian-crisis-2024. Acesso em: 11 dez. 2024.
CONCERN WORLDWIDE. Síria em 2024: situação humanitária e desafios. Disponível em: https://www.concern.org.uk/syria-crisis-2024. Acesso em: 11 dez. 2024.
WFP. Crise alimentar na Síria – 2024. Disponível em: https://www.wfp.org/syria-food-crisis-2024. Acesso em: 11 dez. 2024.
UNHCR. Dados atualizados sobre refugiados sírios – 2024. Disponível em: https://www.unhcr.org/syria-refugees-2024. Acesso em: 11 dez. 2024.
Autor: E.M.Pinto
Credito da foto: planobrazil.com
Fonte: https://www.planobrazil.com/2024/12/11/siria-uma-catastrofe-humanitaria-programada/