A “ordem internacional baseada em regras não está escrita, não é possível encontrá-la em qualquer documento ou tratado, é fruto da interpretação casuística de factos frequentemente criados artificialmente.
A cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) realizada no dia 25 de Outubro em Kazan, na Federação Russa, conseguiu reunir cerca de 50 delegações de alto nível de outros países, foi a primeira com a participação dos quatro novos membros de pleno direito – Egipto, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irão – e criou um grupo de parceiros em situação de elevada sintonia com o espírito da organização: Argélia, Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Turquia (membro da NATO), Uganda, Uzbequistão e Vietname.
Isto não é coisa pouca no panorama mundial. Além disso, os BRICS relacionam-se em plano de igualdade, valorizam acima de tudo a independência e a soberania de cada Estado de alguma maneira envolvido no processo e negoceiam entre si segundo perspectivas mutuamente vantajosas, a negação absoluta do espírito imperial ainda dominante no sistema de vida no planeta.
A diferença de comportamentos, objectivos e intenções deste grupo renovador em ascensão em comparação com os comportamentos agressivos mas decadentes do mundo ocidental é o grande confronto dos nossos dias: entre a velha ordem imperial e colonial imposta manu-militari, financeira, económica, política e propagandística pela minoria obsoleta dos países do chamado Ocidente colectivo, a citada ordem internacional baseada em regras; e a restauração plena do Direito Internacional, princípio fundador dos BRICS e de várias outras associações de nações emergentes como a Organização de Cooperação de Xangai, a União Económica da Eurásia, a Iniciativa Cintura e Estrada, a própria Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN) que, passo-a-passo, recentram o maior peso mundial na Eurásia e instituem novos mecanismos de relacionamento não-imperiais e não-coloniais, isto é, não-ocidentais.
Porém, vivemos “a hora dos monstros”. Os sociopatas que, dando largas à vocação genocida, de que são exemplos flagrantes as acções de extermínio e limpeza étnica praticadas pelo sionismo – em “defesa do Ocidente” – e o prolongamento assassino da guerra na Ucrânia patrocinada pelo desespero ocidental, assumem, cada vez com maior e alarmante frequência, não haver limites quanto ao eventual uso de armas de extermínio da vida no planeta.
A “ordem internacional baseada em regras não está escrita, não é possível encontrá-la em qualquer documento ou tratado, é fruto da interpretação casuística de factos frequentemente criados artificialmente e de supostas realidades que não passam de mentiras ou falsificações para que sejam respeitados os “interesses ocidentais”, confundidos, em sistema de golpe permanente, com os direitos de todos os povos e nações.
O “direito” em que se baseia o Ocidente global não existe, não é legítimo no ordenamento jurídico internacional: é a prova da burla em que se transformou aquilo a que ainda se chama “Estado de Direito”.
Em suma, a “ordem internacional baseada em regras” é um abuso do poder autoritário, antidemocrático, com inegáveis tonalidades fascistas que pretende gerir pela força a globalidade do planeta e sob a qual numerosos países de todos os continentes ainda estão subjugados. Não passa de uma ficção como instrumento de Direito e de relacionamento militar, económico, político e diplomático, mas todos seremos capazes, em função da experiência que estamos a viver, de a registar em letra de forma. Será, sem dúvida, um útil exercício para memória futura, agora que o autêntico Direito Internacional está a ganhar novo fôlego em proporção directa com a falência do poder das “regras” a que o Ocidente continua a agarrar-se como náufrago.
Elaboro nestas linhas apenas uma versão possível. Qualquer cidadão imune ao capacete mediático de controlo poderá escrever a sua variante; a qual, certamente, não será de conteúdo muito diferente.
Eis, pois, a minha proposta para que a “ordem internacional baseada em regras” fique documentada – ainda que contra a vontade e, obviamente, sem autorização dos que a aplicam e assim violam todos os nossos direitos como cidadãos.
Ordem Internacional Baseada em Regras – As Regras
1. Os Estados Unidos da América são a única nação Indispensável, a nação Excepcional, à qual cabe guiar e comandar o Ocidente Colectivo na defesa dos seus interesses em qualquer continente, oceano, regiões e também no espaço.
2. Os Estados Unidos da América são o modelo da única Democracia reconhecida como tal em todo o planeta e do único sistema financeiro, económico, militar e político que pode ser praticado no mundo: o que resulta do pleno e livre funcionamento do Mercado segundo os princípios estabelecidos no Consenso de Washington de 1989; estas normas regulam a implementação e globalização do sistema neoliberal inspirado na autoridade absoluta da teoria e prática da Escola Austríaca de pensamento económico e aplicadas em pleno pela primeira vez, através da Escola de Chicago e com reconhecido êxito, na Revolução Chilena de 1973 – que pôs fim a um sistema socialista desumano e desviante.
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Parágrafo 1º. Os Estados Unidos e o Ocidente colectivo poderão tolerar e apoiar expressões e regimes de cariz fascista, nazi e sionista no caso de serem imprescindíveis para a defesa dos interesses ocidentais e a liquidação de teorias, correntes e organizações político-económicas inimigas do Mercado, alheias à Nossa Civilização e que têm o único objectivo, como expressões extremas de barbárie, o de exterminá-la e extingui-la por completo.
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Parágrafo 2º – Os Estados Unidos e os países ocidentais têm o dever e a obrigação de impôr, se necessário através da força e de outros métodos dissuasores de intervenção, incluindo a correcção de regimes em vigor, a realização de eleições gerais em todas as nações do planeta de acordo com o modelo único, o da Democracia Liberal, originalmente fundado e praticado nos Estados Unidos da América. Quaisquer resultados de eleições apresentadas como justas e legítimas em quaisquer nações do planeta e que não correspondam aos interesses do Ocidente e à liberdade absoluta do Mercado serão considerados falsificados e manipulados, razão necessária e suficiente para que não sejam reconhecidos pelas nações ocidentais. Estas nações, principalmente os Estados Unidos da América, reservam-se o dever de impôr que essas entidades sejam isoladas, excluídas e punidas no âmbito da comunidade internacional definida por esta Ordem Internacional Baseada em Regras.
3. Como nação Excepcional e a única Indispensável, os Estados Unidos não permitirão o crescimento económico e militar de qualquer outra nação, comunidade, união, aliança ou associação de países que a torne capaz de rivalizar ou pôr em causa o papel inato Norte-Americano como guia e comandante da ordem mundial. Este princípio inquestionável é válido também em relação à imprescindível, preventiva e permanente contenção das dimensões do papel internacional que a União Europeia poderia hipoteticamente atingir.
4. Os princípios civilizacionais, religiosos, cívicos e humanos seguidos no Ocidente Colectivo dão forma à única Civilização que pode ser considerada como tal, superior e predominante sobre quaisquer usos, práticas e costumes seguidos no exterior do espaço ocidental, que devem ser considerados expressões de sociedades ainda em estado selvagem e de barbárie. A Civilização Superior expressa-se actualmente através do único sistema democrático, financeiro, económico, militar, político e mediático que deverá ser imposto em todo o mundo até à concretização plena do globalismo – um mundo sem fronteiras e sem nações a não ser, como disposto no art.º 1º, a única nação Indispensável ou o Governo Mundial Único por Ela patrocinado.
5. O Ocidente, sob o comando dos Estados Unidos da América – missão anteriormente desempenhada por outras grandes nações igualmente inspiradas em Deus, Fé, Civilização, Humanismo e Autoridade – tem o direito, o dever e a obrigação de estender a Civilização Superior a todo o planeta por todos os meios ao seu alcance.
6. A Guerra é o meio de excelência para defender os interesses ocidentais; por isso, estará sempre em aberto a possibilidade de ser utilizado contra os prevaricadores desta Ordem Internacional Baseada em Regras. O Ocidente tem todo o direito – e a obrigação – de recorrer à Guerra sempre que as instituições ocidentais, com ou sem o aval da ONU, concluam ou apenas suspeitem de que os seus interesses estão a ser prejudicados, em risco ou ameaçados. As sanções económicas e políticas e o recurso a revoluções populares, conhecidas igualmente como revoluções coloridas, não substituem a Guerra em si mesma, podem ser úteis para alcançar o objectivo de a tornar mais fácil, eficaz e menos dispendiosa em termos de vidas humanas ocidentais.
7. A Paz é o estado ou a situação encontrada no final de qualquer Guerra travada e vencida por forças ocidentais. Este é o único e autêntico conceito de Paz. As teorias pacifistas e o pacifismo servem, na prática, para alimentar os riscos e os ataques contra os direitos e interesses ocidentais, pelo que não passam de manifestações inaceitáveis e inadmissíveis de barbárie.
8. Parágrafo único. Enquanto subsistirem resquícios de manifestações de selvajaria e de barbárie, a Guerra tem de ser a preocupação principal na formatação e no funcionamento das sociedades ocidentais. Dispendiosas áreas sociais, frequentemente sobredimensionadas em importância, como a saúde, a educação, a habitação, a cultura e a ecologia, deverão obedecer às regras do Mercado através da sua inclusão plena no sector privado; deixarão de ser onerosas e tornar-se-ão lucrativas, reduzindo ao mínimo, neste caminho transformador, as circunstâncias que ainda afectam os meios orçamentais indispensáveis para garantir o funcionamento, nas condições ideais, de um estado de Guerra permanente.
9. A NATO é a única aliança militar aceitável e permitida no cenário internacional e compatível com a defesa dos direitos ocidentais e esta Ordem Internacional Baseada em Regras. Com a entrada em vigor do Consenso de Washington, de aplicação obrigatória, a NATO deixou de ter fronteiras para a sua actuação enquanto aliança ou no quadro de outras variantes ou versões, designadamente os combatentes da liberdade e demais tipos de soldados altruístas internacionais comprometidos com as liberdades e a democracia (não equiparáveis a mercenários). Deste modo, a Aliança Militar Ocidental tem o direito, o dever e a obrigação de actuar em qualquer local do planeta onde haja agressões, ameaças ou suspeitas de ameaças aos interesses ocidentais.
10. O conceito ocidental de Segurança permite e dá o direito aos contingentes militares ocidentais de se expandirem até às fronteiras, de cercar ou mesmo de atacar e desmantelar países ou grupos de países que o Ocidente defina como seus inimigos ou bárbaros. A Segurança de qualquer país ou interesse ocidental pode e deve ser alcançada mesmo que as acções desenvolvidas prejudiquem a segurança, ou até a existência, de terceiras entidades não-ocidentais.
11. O usufruto das riquezas naturais e das matérias-primas mundiais pertence, por definição assente em usucapião secular, à Civilização Ocidental, cabendo aos Estados Unidos da América, como nação Excepcional e Indispensável, a sua gestão e redistribuição pela comunidade das nações ocidentais. Por razões humanistas, a Civilização Ocidental poderá permitir a entidades não-ocidentais, mesmo em estado selvagem e de barbárie, sob controlo rigoroso e perante comprovadas necessidades, a utilização parcelar de alguns desses bens – com a condição de que daí não resulte o mínimo prejuízo para os interesses ocidentais.
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Parágrafo 1º. O combate às alterações climáticas é travado sob o comando exclusivo da Nossa Civilização. Qualquer medida transnacional de teor ecológico, ambiental e a própria transição verde têm obrigatoriamente de ter em conta o livre, superior e soberano funcionamento do Mercado.
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Parágrafo 2º. O controlo ocidental das riquezas naturais e matérias-primas mundiais, tal como o combate às alterações climáticas, poderão levar ao recurso à Guerra sempre que se conclua ou suspeite de que os interesses da Nossa Civilização e a liberdade do Mercado não sejam devidamente respeitados.
12. A única versão sobre a realidade existente no mundo a qualquer instante é a veiculada pelos poderes militar, financeiro, económico, político e mediático multiplataforma formado pelos principais grupos globais de comunicação social. A definição inquestionável da realidade mundial em cada momento pode ter nuances de acordo com expressões culturais e políticas que se manifestem no Ocidente – mas sem colocarem jamais em causa a única verdade aceite. É obrigação das instituições económico-financeiras, militares, políticas e de comunicação ocidentais silenciarem e punirem manifestações de interesses e opiniões alheias e contrárias à Nossa Civilização, invariavelmente sintonizadas e patrocinadas pela barbárie, tornando-se urgente a aceleração desse processo na Internet.
13. As Nações do Ocidente Colectivo são livres de aceitar ou não a entrada de refugiados alheios à Nossa Civilização que procuram contornar, quase sempre por razões oportunistas e egoístas, as consequências tornadas inevitáveis, como danos colaterais, das guerras conduzidas por forças ocidentais em defesa dos interesses ocidentais. O respeito estrito pelo funcionamento do Mercado determina que as quotas dessas admissões sejam definidas apenas por critérios económicos, designadamente os ditados pelas necessidades de preenchimento conjuntural de postos de trabalho em actividades indispensáveis mas que são menos dignas do estado de desenvolvimento e princípios da Nossa Civilização.
Artigo Especial. O Estado de Israel, embora situado em territórios geograficamente orientais, é parte integrante e inalienável do Ocidente Colectivo e da Nossa Civilização; cabe-lhe, designadamente, defender os interesses ocidentais na região por todos os meios e métodos ao seu alcance, recebendo para isso dos países, comunidades, uniões, regiões e alianças ocidentais, a cada momento, os meios financeiros, económicos, políticos, de propaganda e, sobretudo, militares e de armamento para concretização dessa tarefa imprescindível e a Ordem Internacional Baseada em Regras seja rigorosamente aplicada.
O território de Israel não carece de fronteiras definidas, pode ser ampliado através da ocupação, por quaisquer meios, dos territórios entre os rios Nilo e Eufrates que considere indispensáveis para sua segurança e a de todo o Ocidente, porque vive cercado de inimigos bárbaros ferreamente apegados a métodos selvagens e selváticos. A doutrina Sionista, humanista e de mandato divino, designadamente quanto à legitimidade milenar da soberania sobre o seu território, é uma componente inseparável e insubstituível da Civilização Ocidental, sobretudo em termos geoestratégicos, geopolíticos, militares e religiosos através das expressões exclusivamente ocidentais de Fé, Esperança, Caridade e Piedade.
Israel deve ter diplomaticamente todo o Ocidente ao seu lado perante as tentativas bárbaras para conseguir o seu isolamento e posterior desaparecimento. A chamada “solução de dois Estados”, ocasionalmente e conjunturalmente defendida por autorizadas vozes ocidentais, emana apenas do chamado direito internacional, pelo que é absolutamente incompatível com a Ordem Internacional Baseada em Regras.
Durante quanto tempo mais aceitaremos viver, nós os povos ocidentais, segundo estas regras?
Autor: José Goulão
Fonte: https://strategic-culture.su/news/2024/11/26/para-memoria-futura-da-decadencia-ocidental/