250.000 pessoas expulsas de suas casas em Gaza. 1.500 prédios residenciais arrasados em um mês. Um quarto da população exterminada.
O que está acontecendo em Gaza transcende a ideia de uma operação militar dirigida exclusivamente contra um grupo armado. Não estamos falando de um confronto entre exércitos com regras — estamos falando da destruição deliberada de uma população civil, do apagamento sistemático de bairros, hospitais, escolas, vidas — enquanto poderes e governos fazem vista grossa ou fornecem o apoio necessário para que essa destruição continue.
Sejamos claros: Israel não está lutando contra o Hamas. O que estamos testemunhando é uma política de aniquilação que devasta a vida cotidiana, arranca lares e esperanças e busca tornar o território palestino inabitável. Bombardeios que não fazem distinção entre combatentes e civis; bloqueios que sufocam e condenam a população à escassez; táticas que expulsam centenas de milhares e reduzem cidades inteiras a pilhas de escombros. Números não são abstrações: são corpos, crianças, bairros, memória coletiva.
O papel dos Estados Unidos nesse processo é incontornável. Com armas, apoio diplomático e proteção política em fóruns internacionais, Washington legitima e facilita a maquinaria que destrói Gaza. A Europa e outras potências ocidentais, por sua vez, emitem condenações mornas, impõem sanções lentas ou se envolvem em acordos diplomáticos de bastidores que não mudam a realidade em campo. Esse comportamento não é neutralidade: é cumplicidade.
A comunidade internacional árabe e islâmica também não está isenta de críticas. Cúpulas que produzem comunicados retóricos, pronunciamentos que se repetem em manchetes e gestos simbólicos que não impedem os bombardeios nem garantem assistência eficaz. Enquanto isso, a dignidade do povo palestino se expressa em sua resistência cotidiana: na solidariedade popular, na memória que se recusa a ser apagada e no esforço de sobreviver diante de uma política que visa apagar sua presença.
A narrativa oficial que tenta enquadrar essa ação como uma legítima "luta contra o terrorismo" não consegue se manter à altura da escala dos danos infligidos e da evidente desproporção de meios e métodos. Não é possível justificar a decapitação de bairros inteiros ou a eliminação em massa de civis apelando para a ameaça representada por um grupo específico. O direito internacional, os princípios de humanidade e os padrões mínimos de proporcionalidade exigem respostas diferentes das que temos visto.
A história registrará aqueles que decidiram que a política era mais valiosa do que a vida. Registrará aqueles que venderam armas incondicionalmente e aqueles que fecharam os olhos a apelos desesperados. Registrará também como as organizações internacionais falharam em sua obrigação de proteger as populações civis. Mas a história não é apenas punição: é memória e o testemunho daqueles que resistiram.
Da União Palestina da América Latina (UPAL), erguemos nossas vozes para denunciar claramente o que está acontecendo: não pode haver normalidade nem cumplicidade diante do extermínio de um povo. Exigimos que a comunidade internacional aja de forma decisiva — suspensão da ajuda militar aos agressores, mecanismos eficazes de ajuda humanitária sob supervisão internacional independente e a abertura imediata de corredores seguros para civis. Exigimos também que os responsáveis por crimes contra a humanidade sejam identificados e responsabilizados perante os tribunais competentes.
Gaza não é um número. Gaza é um povo que ama, trabalha, educa, sonha e resiste. Enquanto o mundo vacila, essa resistência se torna o último escudo da dignidade humana. Não podemos permitir que o silêncio, a hipocrisia ou os interesses geopolíticos enterrem o direito fundamental à vida.
A causa palestina é, acima de tudo, uma questão de humanidade. Defendê-la significa defender os princípios que afirmam que nenhuma nação, por mais poderosa que seja, pode tirar a vida e os direitos de outra. A UPAL manterá sua solidariedade ativa, sua denúncia firme e seu firme compromisso com a verdade e a justiça.
União Palestina da América Latina – UPAL
17 de setembro de 2025