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Reuters e a desinformação sobre a Venezuela
A agência Reuters divulgou informações não verificadas sobre supostos destacamentos militares dos EUA para a Venezuela, utilizando dados falsos sobre contratorpedeiros e navios anfíbios que estavam, na verdade, em outros locais. Uma análise detalhada revela como essas «exclusivas» buscavam criar tensão política sem fundamento real.
Publicado em 26/08/2025 14:27
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A última semana na Venezuela foi marcada por um clima informativo intenso.

O suposto envio de tropas militares dos Estados Unidos para o Caribe, com vista às águas territoriais venezuelanas, exerceu uma influência considerável na opinião pública nacional e internacional, gerando não só inúmeras reações, mas também uma grande variedade de hipóteses e conjecturas em torno de um movimento sincronizado com o aumento da recompensa pela captura do presidente Nicolás Maduro para 50 milhões de dólares no início deste mês.

 

A agência Reuters teve um papel significativo na promoção de uma atmosfera de tensão psíquica e comunicacional, baseada na suposta iminência de uma operação militar norte-americana em território venezuelano.

No entanto, a sua forma de proceder esteve muito distante da ortodoxia jornalística e, ao mesmo tempo, muito próxima do limiar das operações psicológicas e de propaganda. Através destas «revelações», tentou consolidar uma narrativa de conflito e intimidação contra a Venezuela, operando como braço mediático da agenda dos setores linha dura do Partido Republicano, liderados pelo secretário de Estado, Marco Rubio.

 

A agência tentou conferir aparência de veracidade ao que ainda é extraoficial em termos estritamente institucionais — os porta-vozes do Pentágono não forneceram informações específicas sobre o envio e seus objetivos —, com o objetivo de reforçar uma manobra que ainda é setorial dentro da administração Trump.

A referida agência informou, a 19 de agosto, que três contratorpedeiros norte-americanos, o USS Gravely, o USS Jason Dunham e o USS Sampson, estariam em águas próximas à Venezuela nas 36 horas seguintes, para eventuais ataques seletivos e com a orientação de responder à ameaça dos «cartéis de droga». A operação incluiria 4 mil marinheiros e fuzileiros navais, aviões espiões, navios de guerra e, pelo menos, um submarino de ataque, segundo a Reuters.

Poucas horas após a publicação, começaram a surgir indícios de que a «revelação» não tinha fundamento real, de acordo com um trabalho de verificação realizado pelo meio de comunicação venezuelano La Tabla. Resumindo, o USS Sampson estava no Pacífico oriental. O USS Gravely estava em operações no Golfo do México, enquanto o Jason Dunham estava há mais de um mês inoperante na Base Naval de Mayport, na Flórida.

 

Era evidente que a relação distância-distribuição dos navios tornava praticamente impossível que eles estivessem envolvidos numa mobilização unificada em direção à Venezuela. Passaram-se 36 horas e, logicamente, nada aconteceu.

Pode-se presumir que a Reuters decidiu arbitrariamente violar o princípio de verificação de fontes antes de lançar essa publicação? Dificilmente isso seria possível. A agência teria levado pouco tempo para validar as informações de suas fontes com uma simples pesquisa sobre o estado dos navios mencionados.

Essa omissão, incompreensível para uma agência do porte da Reuters, só pode ser explicada pelos objetivos da publicação e pelos interesses aos quais ela respondia. Embora em pouco tempo tenha ficado evidente que o envio desses três navios era irreal, a «revelação» intensificou o cenário de tensão e possibilitou uma escalada discursiva por parte de Washington, na figura de Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca.

O dano já estava feito: comoção na opinião pública e um aumento do tom por parte de determinados atores políticos norte-americanos.

 

Era evidente que a relação distância-distribuição dos navios tornava praticamente impossível que eles estivessem envolvidos numa mobilização unificada em direção à Venezuela. Passaram-se 36 horas e, logicamente, nada aconteceu.

Então, em 20 de agosto, a Reuters divulgou outra «revelação» segundo fontes a par do assunto que preferiram falar sob condição de anonimato. Foi anunciado um novo destacamento, mas desta vez de navios anfíbios (USS San Antonio, USS Iowa Jima e USS Fort Lauderdale) que transportariam mais de 4 mil militares e mais de 2 mil fuzileiros navais. O destacamento chegaria perto da costa venezuelana no fim de semana.

A notícia provocou um aumento significativo do clima de instabilidade, incerteza e preocupação. Pouco tempo depois, foi confirmado que o navio Iwo Jima havia retornado à base de Norfolk para evitar o furacão Erin. Mais uma vez, a agência ficou exposta com uma notícia não verificada e politicamente manipulada.

 

Mas, neste caso, houve um aspeto singular. Além do caso do Iwo Jima, a Reuters utilizou os mesmos elementos de uma publicação do Departamento de Defesa dos EUA de 18 de agosto, na qual anunciava o envio da sua Força de Resposta Rápida americana para realizar «operações globais».

Na referida publicação oficial, foram indicados os mesmos navios e o mesmo número de efetivos a bordo, mas com a importante diferença de que, ao contrário da Reuters, o Pentágono não forneceu informações específicas sobre os seus objetivos geográficos, militares ou políticos.

Consequentemente, a agência utilizou informações públicas que não vinculavam a Venezuela e transformou-as numa suposta «exclusiva» para imprimir uma orientação para a intervenção militar, novamente descrita como iminente para amplificar a tensão dentro e fora do país.

Em certo sentido, é possível apontar a Reuters por violar aspectos básicos do ofício jornalístico. Mas uma leitura crítica nesse sentido parece estar longe de ser correta, pois as omissões e distorções que configuraram as suas «revelações» e «exclusivas» foram planejadas e tiveram um objetivo político concreto, ligado a uma ofensiva dos falcões dentro do governo Trump, ansiosos por criar as condições propícias para uma agressão, no âmbito militar ou de operações clandestinas.

 

 

 

Fonte: https://www.telesurtv.net/reuters-desinformacion-venezuela-despliegue/

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