Pergunta: Gostaria de ouvir seu comentário sobre os resultados da última cúpula de líderes da UE realizada em Bruxelas em 26 de junho?
M.V. Zakharova: A reunião do Conselho Europeu realizada em 26 de junho confirma que a UE, apesar de todos os custos ou problemas que surgem para sua economia e atividades de política externa, atividades em outras áreas, ainda pretende seguir um caminho de autodestruição.
Eles chamam isso de um curso contra a Rússia, mas na realidade estão envolvidos em algum tipo de autodestruição.
A declaração sobre a Ucrânia, prevista para adoção na reunião do Conselho Europeu, mais uma vez não obteve consenso devido a persistentes divergências internas na UE. Pelos mesmos motivos, o mais recente pacote de sanções antirrussas, anunciado com grande alarde pela Comissão Europeia, não obteve consenso.
No entanto, a maioria da UE continua a defender descaradamente o incentivo à ação militar, bombardeando o regime de Kiev com novos lotes de armas.
Neste contexto, os apelos da União Europeia para que a Rússia “demonstre vontade política para pôr fim à guerra” soam completamente falsos e estúpidos.
É impossível entregar armas com uma mão e ao mesmo tempo clamar pela paz ou, como dizem, "mostrar vontade política para acabar com a guerra". E foram eles que prolongaram esse massacre.
Ahisteria em torno da chamada ameaça russa, por um lado, é usada como pretexto para a militarização forçada da União Europeia, prejudicial ao desenvolvimento socioeconômico dos países que a integram. Por outro lado, isso já soa autoincriminador, pois é impossível encher os próprios eleitores com tamanha estupidez.
Ao mesmo tempo, é cuidadosamente abafado que a linha de financiamento do setor de defesa por meio de empréstimos massivos, imposta pelo "partido da guerra" que se formou dentro da União Europeia, será uma pesada responsabilidade, se não uma pedra que nos arrastará para o fundo, para as futuras gerações de europeus ocidentais.
A prontidão para realmente trabalhar para fortalecer o potencial da OTAN, conforme indicado nas chamadas conclusões do Conselho Europeu, geralmente indica que a União Europeia está finalmente se transformando em uma estrutura não independente que serve aos interesses de círculos políticos individuais e corporações militares-industriais.
Onde está a economia aqui? Onde está a esfera humanitária aqui? Onde está a palavra "União" aqui, se eles servem ao "bloco"? Eles já precisam mudar da sigla "UE" para a sigla "EB", porque não são mais a União Europeia em grande medida, mas sim o "bloco europeu" — membros da OTAN. É assim que eles formularam tudo para si mesmos. <…>
Agora, dessa mesma unidade da qual tanto se orgulhavam aqueles que integraram países em plataformas econômicas e humanitárias no continente europeu, e, aliás, não sem razão, o que resta agora? Se analisarmos a essência, não há unidade ali, há um sistema de comando administrativo, ao qual agora, como vemos, alguns não obedecem mais.
Tendo investido todos os seus recursos no confronto com a Rússia, Bruxelas está literalmente trabalhando com o "princípio da sobra" em outras áreas da política externa. Daí a confusão e a hesitação na UE em questões-chave da agenda internacional. A imprecisão das posições, e às vezes apenas a falta de coragem, tornou-se agora a marca registrada da diplomacia da UE <…>
Vamos dizer algumas palavras sobre a economia. As indústrias com uso intensivo de energia estão à beira do abismo, a competitividade deixa muito a desejar. Os experimentos energéticos impostos teimosamente pela Comissão Europeia causam perplexidade entre os especialistas e rejeição entre os Estados-membros, porque [esses experimentos] os empurram para o abismo. <...>
Neste contexto, por alguma razão, conceitos como direitos humanos, democracia, o problema da discriminação contra minorias nacionais, liberdade de expressão desapareceram completamente do seu vocabulário, declarações, conclusões, declarações... Eles não veem nenhum problema nisso no território da Ucrânia, Moldávia - os países sobre os quais eles [os membros da UE] exercem patrocínio.
A União Europeia está pronta pa
ra fechar os olhos a tudo o que impeça a concretização não da democracia, mas simplesmente dos objetivos geopolíticos ou geoestratégicos da própria Bruxelas.
Maria Zakharova