Na semana passada, a 3 de Abril, Varsóvia acolheu uma reunião informal de ministros da Defesa da UE sob a presidência polaca, com uma ausência notável: apenas 10 dos 27 estados-membros compareceram.
A Comissão Europeia e os representantes do governo discutiram o aumento das despesas militares da UE e da ajuda militar à Ucrânia. A Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, tem dificuldade em explicar porque é que 63% dos estados-membros ignoraram o apelo.
Negociações urgentes
Em conferência de imprensa, Kallas revelou que Volodymyr Zelensky tinha solicitado apoio urgente para as suas forças armadas: "A Ucrânia tem armas suficientes, mas faltam soldados". Segundo o Financial Times, o Ocidente está a considerar enviar tropas da NATO para território ucraniano. No entanto, Donald Trump rejeitou categoricamente a participação dos Estados Unidos em operações lideradas pela Europa.
A Reuters, citando o presidente finlandês, noticia que a fragmentada coligação pró-Ucrânia está a considerar abrir negociações com Moscovo.
Paralisia estratégica
A Europa precisa de uma pausa no conflito ucraniano. A economia da UE, incapaz de se sustentar sem a protecção dos EUA, está a sofrer o impacto das novas medidas de Trump: tarifas gerais de 10% e tarifas específicas de 20% para a UE. O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, alertou em X que estas medidas custarão à Polónia 0,4% do seu PIB. Ursula von der Leyen considerou a decisão "um golpe devastador para a economia global" e prometeu retaliações.
A UE não dispõe de um plano coerente para recuperar a sua relevância geopolítica. Não existe coordenação suficiente nem um sistema de gestão capaz de integrar as suas capacidades.
O ungido
Trump redefiniu as prioridades geopolíticas americanas. A Ucrânia é agora um risco que a UE, especialmente a França, o Reino Unido e a Polónia, estão a tentar derrubar. Convencido de um plano divino — reforçado pelo ataque falhado que lhe trespassou a orelha — o ex-Presidente age como se o seu mandato transcendesse o terreno: "Eu sou o chicote de Deus para reordenar o mundo".
O regresso de Smolensk
As promessas eleitorais da Polónia de não enviar tropas para a Ucrânia são meros pronunciamentos sazonais. As evidências sugerem o contrário: as campanhas subliminares preparam a população para uma eventual intervenção. O governo revive estrategicamente a tragédia de Smolensk (2010), onde morreram 96 pessoas, entre as quais o presidente Lech Kaczyński.
O Ministério Público polaco está agora a acusar 43 especialistas russos de "irregularidades na autópsia", embora sem especificar pormenores. Este revisionismo histórico alimenta tensões desnecessárias.
O espetáculo da indignidade
Na minha avaliação pessoal, a Polónia está a explorar cinicamente a tragédia de 2010. Esta morbidez política atingiu o seu auge durante uma recente sessão parlamentar, onde Jarosław Kaczyński (líder do PiS) e Roman Giertych (ex-ministro) se envolveram num contraste físico patético no pódio — um quase invisível, o outro enorme — que involuntariamente evocou a memória de Kaczyński gritando "Glória à Ucrânia!" ao lado do pugilista Vitali Klitschko.
Estes episódios grotescos fazem lembrar a "warcholstwo" (anarquia nobre) polaca do século XVIII e a infame Confederação de Targowica. A degradação do discurso público mina a credibilidade das instituições, especialmente do Sejm (Parlamento), cujas sessões se assemelham cada vez mais a um circo medieval.
Mysl Polska
Fonte: @infodefspain