Contra um grande número de opiniões seduzidas pela actuação de Zelensky, argumentei que o episódio da Sala Oval com Trump nada tinha a ver com coragem e heroísmo, mas antes com impreparação e estultícia por parte do rosto público do grupo dirigente de Kiev. "Coragem", "Dignidade" e outros termos foram então usados quer pelos propagandistas habituais, quer até por gente de reconhecidos créditos intelectuais. Ao invés, entendi que um político é alguém que constrói alternativas viáveis antes de mergulhar em becos sem saída, como fez Zelensky, já antes apanhado nas malhas do extremismo belicista e proto-fascista que com o apoio das democracias norte-americana e europeias fora guindado ao poder na Ucrânia.
A sua retratação -que abaixo reproduzo integrlamente- é uma das peças políticas mais confrangedoras que jamais me foi dado ler. A réplica que obteve do nóvel imperador não poderia, por seu lado, ser mais cruel e impiedosa, ao dizer que Zelesnky parece uma criança mimada que se habituou a receber doces que não sabe agradecer.
Em suma, o recreio acabou definitivamente para aquele a quem o parolismo da propaganda chegou inacreditavelmente, sem se rir, a chamar "o Churchill do século XXI", mesmo enquanto, a chamada União Europeia, com o seu insólito destrambrelho, finge montar uma fábrica de chocolates para substituir a reestrutração trumpiana da empresa "Ucrânia SARL". Datada de 4 de março de 2025, com uma foto que então usei da embaixadora ucraniana em Washington durante a reunião na Sala Oval e sem preocupação de fingir bravura, fica, pois, o segundo andamento da bravata de Volodymir Zelensky em Washington:
"Gostaria de reiterar o compromisso da Ucrânia com a paz.
Nenhum de nós deseja uma guerra interminável. A Ucrânia está pronta para chegar à mesa de negociações o mais rapidamente possível, para aproximar uma paz duradoura. Ninguém deseja mais a paz do que os ucranianos. A minha equipa e eu estamos prontos para trabalhar sob a forte liderança do Presidente Trump para alcançar uma paz que perdure.
Estamos prontos para trabalhar rapidamente para pôr fim à guerra, e as primeiras etapas poderiam ser a libertação de prisioneiros e uma trégua no céu — proibição de mísseis, drones de longo alcance, bombas em infraestruturas energéticas e outras infraestruturas civis — e uma trégua no mar imediatamente, se a Rússia fizer o mesmo. Depois, queremos avançar rapidamente por todas as etapas seguintes e trabalhar com os EUA para chegar a um acordo final sólido.
Nós valorizamos muito o que a América fez para ajudar a Ucrânia a manter a sua soberania e independência. E recordamos o momento em que as coisas mudaram quando o Presidente Trump forneceu Javelins à Ucrânia. Somos gratos por isso.
A nossa reunião em Washington, na Casa Branca, na sexta-feira, não decorreu como deveria. É lamentável que tenha acontecido desta forma. É hora de corrigir as coisas. Gostaríamos que a cooperação e comunicação futuras fossem construtivas.
No que diz respeito ao acordo sobre minerais e segurança, a Ucrânia está pronta para assiná-lo a qualquer momento e em qualquer formato conveniente. Vemos este acordo como um passo em direção a uma maior segurança e a garantias sólidas de segurança, e espero verdadeiramente que isso aconteça".
Autor: Rui Pereira (Professor Universitário) In Facebook